Dr. Jorge Huberman

Exigir demais das crianças é ruim!

Se para nos adultos viver sob pressão é algo muito angustiante, para as crianças isso não é nada bom. Pior: exigir demais das crianças é ruim e traz consequências muito sérias!

Em primeiro lugar, não é benéfico “espremer” e angustiar a criança fazendo exigências que, muitas vezes, elas não podem cumprir.
Apesar disso, deve-se considerar o outro lado da história.
A partir do momento que se faz uma solicitação, não se deve voltar atrás.
Deve-se exigir o cumprimento da tarefa, caso contrário a criança se acostumará a não ser responsável. E isso só vai piorando.
Certamente os pais devem fazer uma análise interna, agindo com habilidade e chegando à conclusão de que estão tendo coerência e justiça.
É importante fazer cada pedido de uma maneira saudável, que a criança acate com boa vontade e nunca gritar com ela ou bater nela.
Muitas vezes os pais fazem exigências em um tom que a criança percebe que apenas estão querendo impor autoridade e mostrar quem manda e, assim, geram na criança um sentimento de injustiça e rebeldia.
Por isso, uma análise fria e coerente deve preceder toda conclusão de que a exigência é benéfica.
Um exemplo muito comum é daquela criança que precisa acordar cedo no dia seguinte para assistir aulas e quer dormir tarde.
Assim, o pai ou a mãe lhe dá a ordem de que ela deve ir para cama, dormir e apagar a luz. Isso deve ser feito sem gritos, sem insultos e muito menos tapas.
Muitas vezes, até sem perceber, os pais tomam atitudes que não são positivas e não há nenhuma conexão com a boa educação.
Ocasionalmente porque estão muito cansados e desejam somente sossego, às vezes porque estão com um problema pessoal ou profissional.


Pais agem de forma errada para satisfazerem seus próprios interesses

Mãe discutindo com sua filha:  exigir demais das crianças é ruim
Mãe discutindo com sua filha: exigir demais das crianças é ruim! Fora tudo, pode trazer más consequências

 

Também por egoísmo ou qualquer outra razão, agem de forma errada para satisfazer seus próprios interesses, esquecendo do bem maior que é a formação intelectual e mental do seu filho.
Se os pais pensarem de forma sincera, imaginariam que nunca agiriam dessa forma em um escritório, por exemplo, com um colega de trabalho ou qualquer outro ambiente social.
Obviamente esse tipo de comportamento seria visto como grosseiro e imediatamente reprovado. Essa é uma boa medida para entendermos o termômetro de como agir.
Um adulto que carrega uma série de característica estabelecidas em seu caráter, deve cuidar muito para não transmitir uma conduta negativa, arrogante e egoísta.
Sem perceber, aquela busca por autoridade, respeito e o orgulho que às vezes deixamos de lado, influenciam diretamente no dia a dia da educação de nossos filhos.
É como se disséssemos sem constrangimento: “Ele é meu filho e eu posso fazer o que eu quiser! Eu tenho total domino.”
Vejamos brevemente como atuam três dessas características negativas na educação dos filhos: a inveja, a busca pelo respeito e o nervosismo.
Um exemplo frequente de inveja é por exemplo quando uma mãe vê que o filho de sua amiga ajuda bastante em casa e é muito prestativo. Com inveja ela decide que vai obrigar o filho a ajudar mais.
Sem perceber, ela não age com bom senso e objetivos educacionais e sim com inveja da amiga e o desejo de “mandar no filho”.
O ideal, nesses casos, é fazer uma avaliação honesta se o seu filho é verdadeiramente capaz de fazer o mesmo que o seu coleguinha, ou seja, o que o filho da amiga da mãe está fazendo e nunca fazer comparações denegrindo a capacidade do seu filho.


Se os filhos se comportam educadamente em troca de honrarias, algo está bem errado!

Menino cortando madeira com machado: se os filhos se comportam educamente em troca de honrarias, algo está bem errado!
Criança corta madeira com machado: filhos não podem se comportar bem só para ganhar presentes


Analisemos outro exemplo: os pais recebem visitas e exigem que o filho vá cumprimentá-los de forma educada, assim, eles ficam na expectativa de ouvir os elogios logo em seguida.


Se eles se comportam assim em troca de honrarias, então algo muito errado está acontecendo.
Mas, se o fazem porque desejam que o filho se torne uma pessoa bem educada, cordial, isso sim é muito positivo!
O nervosismo é outro exemplo muito negativo e um comportamento dos pais que prejudica muito os filhos.
Façamos uma análise honesta sobre o nervosismo.
Uma pessoa alterada, irritada, é uma clara demonstração que ela exige, em forma geral, que o outro faça aquilo que ela deseja.
Algo vai contra a sua vontade? Então ela se torna hostil, exigente e muitas vezes sem controle.
Ou seja, a base do nervosismo muitas vezes é o egoísmo.
Ocorre que quando se trata de uma rotina desgastante, cansativa e frustrante que os pais enfrentam muitas vezes e, ao chegarem em casa, os filhos não obedecem a suas ordens e até os desafiam, essa é uma situação muito difícil.
Não tem jeito! Esse é um exercício constante de autocontrole.
Os pais podem ficar muito nervosos e chegar a bater no filho. Então ele tenta racionalizar dizendo: “É para o bem dele, para usa boa educação”.
Por orgulho ou para não se sentir mal com a sua consciência ele se acoberta com essa desculpa, ao invés de admitir que estava errado e agiu motivado pelo nervosismo.
Se as suas atitudes estão sendo motivadas por desejos pessoais e más características é uma ilusão imaginar que estão praticando uma boa educação.


Pais não podem ver o filho como um objeto particular: exigir demais das crianças é ruim!

Criança carrega carrinho: pais agem de forma errada para satisfazerem seus próprios interesses
Criança carrega carrinho: pais agem de forma errada para satisfazerem seus próprios interesses

 

Pior ainda é, sem perceber, há pais que sentem responsabilidades e obrigações em relação aos filhos, mas com isso, o veem como um objeto para ser usado conforme seus desejos.


Ou até mesmo cobrar por aquilo que é feito, lembrando o filho o tempo todo de tudo o que é feito por ele.
Devemos educar os filhos “conforme o caminho deles”, ou seja, conforme aquilo que a criança demonstra ser a sua natureza e não conforme os nossos interesses.
O que quer dizer isso? Muitas vezes as exigências que fazemos às crianças são desejos nossos e não deles. Isso deve ser respeito.
Não significa que vamos deixar os filhos fazerem o que bem entender, muito pelo contrário!
Devemos cuidar que tenham disciplina, respeito e compromisso.
Temos que trabalhar com sinceridade e insistentemente nossas más características, pois a boa educação se dá principalmente pelo exemplo.
Esse é o trabalho mais difícil do ser humano!
Se procurarmos com firmeza a boa educação, o educador tende a aprender, assim como os pequenos.
Pouco a pouco, aprimoram suas virtudes e adquirem um perfil cada vez melhor para educar os outros.
Uma pessoa sem educação, que não procura refinar suas características, não tem condições de educar os outros.
Somente assim, admitindo nossas más ações, aperfeiçoando nossas qualidades e o relacionamento com nossa família e a sociedade, a criança saberá de tudo isso e se tornará uma pessoa de grande valor.