Dr. Jorge Huberman

Como os jovens podem evitar as drogas?

Quando as crianças começam a crescer, os pais logo se perguntam: como os jovens podem evitar as drogas? A prevenção de problemas por uso de álcool e drogas deve começar já na infância. É assim que os jovens podem evitar o seu uso, ou seja: esse é o primeiro passo para que crianças e adolescentes não tenham acesso a essas substâncias.

A adolescência é a etapa da vida de maior fragilidade e abertura para a descoberta e a utilização de algum tipo de “escape” proibido. O fator de risco nesta fase é muito alto e os motivos que levam ao uso dessas substâncias proibidas são vários.

Nem todos os jovens usam drogas. Não existe, evidentemente, uma regra que defina quem irá se tornar consumidor ou dependente delas, mas há razões de ordem biológica, psicológica e social que aumentam ou diminuem a chance de isso acontecer.

No meio científico, os estudiosos no assunto concordam que o uso de substâncias psicotrópicas é multifatorial e que os principais fatores envolvidos são curiosidade, obtenção de prazer, influência do grupo, pressão social, baixa autoestima e dinâmica familiar.

Nesse contexto, as opções feitas por nós estarão sujeitas a inúmeros fatores, externos e internos, que, no balanço final, irão gerar uma atitude diante da decisão de consumir ou não drogas.

Na esfera da prevenção primária, fatores de risco são aqueles que aumentam a chance de ocorrer o início do uso de drogas.

Os fatores de proteção são, por sua vez, aqueles que reduzem os riscos desse uso ocorrer.

É possível compreender a dinâmica desses conceitos por meio de uma metáfora.

Imagine uma balança de dois pratos com, de um lado, o peso do risco e, de outro, o peso da proteção. Esse cenário pode ser comparado à utilização de drogas; a determinação do consumo pode ser norteada pelo lado mais sólido da balança. Caso o lado mais pesado seja o da proteção, é provável que o consumo de drogas não ocorra.

Apenas um agente de risco ou de proteção não define o uso ou não de drogas. Isso vai depender de qual prato da balança pesa mais e de como cada fator sensibiliza determinado sujeito.

Além disso, deve-se acreditar que um fator de risco é identificado por intermédio de cálculos matemáticos – que evidenciam o que determinado fenômeno representa para a maioria dos casos – e que, por conta disso, há fatores que certamente são de risco para algumas pessoas e de proteção para outras.

Alguns motivos podem estar relacionados a essa fase da vida, na qual são comuns a noção de onipotência e a “obrigação” de desafiar a família e a sociedade e de procurar por novas experiências.

Ingestão de álcool ou consumo de drogas preocupam os pais

A ingestão de álcool ou mesmo o consumo de drogas são dois dos maiores problemas que costumam tirar o sono dos pais de crianças e jovens. Faz parte da vida de um casal com filhos nesta idade este tipo de preocupação.

Contudo, programas de prevenção foram criados justamente para conter este problema, para esse fim.

Em 2016, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou os dados de uma pesquisa feita com alunos do 9° ano do ensino fundamental que mostraram que os jovens cada vez mais cedo tem tido contato com drogas de algum tipo. Ou então estão tendo acesso às bebidas alcoólicas.

Mais de 50% dos entrevistados, cerca de 1,5 milhão de alunos, afirmaram já terem consumido álcool.

O dado mais preocupante do levantamento é que um a cada cinco jovens, mais de 20%, teve ao menos um episódio de embriaguez. Do mesmo modo, disseram ter experimentado alguma droga ilícita, 9% dos alunos, cerca de 237 mil estudantes.

O dado alarmante, segundo os especialistas, é que quanto menor a idade de início da ingestão de bebida alcoólica e outras drogas, maiores são as chances do jovem se tornar usuário dependente ao longo da vida.

Ou seja, ao usar drogas antes dos 16 anos, isso é, em plena adolescência, aumenta de modo significativo o risco de ser dependente químico na idade adulta.

Também estão mais sujeitos ao uso precoce os jovens que pertencem a famílias de dependentes químicos, que utilizam álcool e outras drogas com frequência, por estarem mais expostos a essas substâncias.

Do mesmo modo, a hereditariedade também pesa, visto que diversos fatores genéticos já estão comprovados como parte dos fundamentos dos transtornos por consumo de álcool e outras drogas.

Os riscos do consumo precoce de álcool

O consumo precoce de drogas pode levar a uma série de consequências ingratas. Os jovens adolescentes que fazem uso excessivo delas podem desenvolver problemas sérios como ansiedade, depressão, transtorno de personalidade, déficit de memória, perda de rendimento escolar, entre outros.

Isso ocorre porque o sistema nervoso central ainda não se desenvolveu completamente.

A adolescência é uma fase em que o jovem é bastante influenciado pelo grupo onde está inserido. Se o mesmo acha normal beber já nessa idade ou usar outras drogas, o jovem que integra o grupo também achará.

Sendo assim, o papel da família na prevenção do uso de drogas e de bebida alcoólica tem cada vez mais destaque. É necessário monitorar o jovem, saber com quem ele se relaciona, com quem anda, quais locais costuma frequentar.

Segundo os especialistas, a prevenção do abuso de bebidas alcoólicas deve começar o quanto antes, quando a criança tiver sete ou oito anos de idade. Nessa faixa etária, elas ainda ouvem os pais. Já na fase da pré-adolescência, são os amigos que eles escutam, muitas vezes deixando de lado os conselhos dos pais.

O diálogo deve ser feito de modo natural, introduzindo o assunto quando a criança, por exemplo, tiver algum tipo de contato com alguém que se excedeu na bebida. Se os pais perceberem que o jovem apresenta comportamento incomum (agressividade, notas baixas na escola, entre outros), a dica é procurar a ajuda de um especialista.

O mesmo precisa realizar uma avaliação mais profunda dos motivos que podem estar levando o jovem a usar de álcool ou drogas. Algumas doenças, como, por exemplo, o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), podem aumentar as chances de uso dessas substâncias entre eles.

Com o diálogo e o estabelecimento de limites e regras claras, a família assume papel relevante na prevenção e no apoio ao jovem que está fazendo uso abusivo de álcool ou usando outras substâncias. Diversas vezes, o tratamento começa mesmo pela família.

Deve-se notar que o álcool e as drogas são itens de fácil acesso tanto para adolescentes, como para jovens de qualquer classe social.

Prevenção: família e professores devem estar sempre juntos!

Na prevenção, família e escola precisam andar sempre de mãos dadas, próximos, estimulando hábitos de vida saudáveis e proporcionando o entendimento sobre os efeitos nocivos dessas substâncias.

A seguir, algumas dicas de como esta prevenção deve ser realizada.

Seja a referência: viva como você quer que seus filhos vivam. Tudo fica mais fácil se eles enxergarem em alguém que amam um exemplo palpável de moderação e responsabilidade. Não é segredo algum que muitos casos de alcoolismo, por exemplo, passam de geração em geração, de pai para filho.

Converse abertamente sobre esses temas: não tenha medo de falar com eles sobre o uso de drogas e de álcool e do dano que isso pode causar para a saúde, para os seus relacionamentos. Se você não abordar o tema, alguém vai falar. Portanto, é melhor que seja você. Converse sobre isso com seriedade, fundamento e sensibilidade, sem demonizações.

Sacrifique-se um pouco: vale muito a pena fazer esforços a mais, como levar e buscar seus filhos em festas deles com os amigos. Assim são evitadas generalizações, conhecendo melhor os lugares que eles frequentam e as pessoas com quem interagem ou tem amizade. Também irá se aproximar dos seus filhos, escutando suas opiniões sobre os seus amigos e seus momentos de diversão.

Esteja sempre presente: seu filho convidou os amigos para se divertir em casa? Esteja junto! Compareça! Aproxime-se dos amigos dele, esteja à disposição para qualquer coisa e evite que a sua casa seja palco de situações desagradáveis.

Conviva com os amigos do seu filho: saiba sempre, na medida do possível, com quem o seu filho está – não pergunte apenas o nome do amigo, mas o que faz, como se conheceram, qual a origem da amizade. Se houver a oportunidade, aproxime-se das famílias dos amigos dos seus filhos e faça dos pais deles seus aliados pelo bem dos filhos de vocês.

Incentive os hobbies: promova atividades que sejam atraentes para seus filhos e faça com que se sintam valorizados. Geralmente o uso de drogas e álcool aparece como um pretexto para preencher um vazio que poderia ser facilmente completado por um hobby capaz de entreter o jovem.

E pode ser qualquer coisa: esportes, videogames, instrumentos musicais, trabalhos voluntários, o importante é que realmente encante o adolescente.

Ame-os muito: aja de tal maneira que o seu filho nunca duvide do amor dele por você, mesmo quando for necessário dizer “não” para algo. Com carinho, sensibilidade e proximidade, ficará claro que você só quer o bem dele, porque o ama.

A prevenção de danos e riscos e a promoção da saúde, embora andem juntas e se complementem, quando se trata do assunto drogas, elas não são parecidas. A prevenção do uso de álcool, tabaco e outras drogas, como um dos eixos da promoção de saúde, é base das políticas nacionais de saúde.

Assim, por meio de estratégias de promoção de saúde, é viável também prevenir o início do consumo de drogas ou a sua manutenção.

Prevenir é, portanto, tomar medidas para impedir que algo aconteça. No caso da prevenção de doenças, isso requer uma ação antecipada, baseada no conhecimento da história natural da enfermidade, a fim de que seja possível reduzir a chance de que ela ocorra.